Resenha: Quarto de Despejo, Diário de uma favelada de Carolina Maria de Jesus

Tendo estudado apenas dois anos do antigo primário - o suficiente para lhe tornar sábia e ter boa oratória -, Carolina Maria de Jesus encontrou nas palavras por meio da escrita uma válvula de escape, uma maneira de se aliviar do peso da sua vida repleta de dificuldades.

Negra, solteira, favelada e mãe de três filhos pequenos, leva a vida catando materiais recicláveis para revender, desta maneira obtendo dinheiro que comprava mantimentos; uma mulher tão esforçada que por ora se pega pensando na morte nos momentos em que a fome - citada incessantemente em todo o decorrer do livro -, se faz presente que por fim acaba sendo seguido por dias bons onde há alimento e passa a cantar criando poemas e canções em meio à prática de cuidar do seu barraco feito de taboas localizado em uma favela próximo ao Rio Tietê.

Apaixonada por livros, se dedica a escrever um diário contando sua rotina árdua e tudo o que acontecia ao seu redor como a morte de vizinhos, brigas de casais, resultados das eleições, falas dos seus filhos (os quais cuida com todo carinho e vive para dar-lhes o pão de cada dia além de ensina-los sobre a vida), suas paixonites até as tentativas de publicação do seu diário particular em forma de livro, um protesto contra as políticas que diziam lembrar dos pobres e nada faziam para que a triste realidade de fome, violência, falta de saneamento básico, água potável, energia elétrica e atendimento médico fosse aniquilada de vez devolvendo a vontade de viver aos desfavorecidos. 

Com a pontuação levemente modificada para melhor entendimento, o livro é encontrado com diferentes encartes.

Opinião do blog:

O enredo me recorda da história de vida da minha avó materna e consequentemente da minha mãe e tios. Negra, analfabeta sempre deu o seu máximo para colocar o que comer dentro de casa além de incentivar sua prole a buscar o caminho do conhecimento e se tornarem letrados como ela dizia. Trabalhou em casa de família e residiu grande parte da sua vida - a qual teve seus filhos, netos e bisnetos - em um bairro periférico rodeada de de famílias que também eram pobres e se amparavam em momentos difíceis. Passou fome e via muitos moradores indo e vindo de outros lugares buscando melhoria de vida, fazendo tudo com suas próprias mãos sem medo de enfrentar os dias que estavam por vir.

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